Normalmente, as pessoas procuram por terapia quando percebem que não estão mais dando conta de coisas básicas como: trabalho, relacionamentos e saúde. Pode ser que você esteja tendo sintomas de ansiedade como medos, aceleração do pensamento, falta de concentração. Pode ser que esteja com sintomas de depressão: vazio, falta de sentido e motivação, falta de autocuidado. Pode ser que não esteja conseguindo se relacionar bem com chefe, companheiro/a ou filhos. Pode ser que esteja sendo difícil para você se adaptar à uma nova cultura. Pode ser que esteja tendo problemas de libido ou, ainda, que não esteja conseguindo se aceitar e amar a sua própria aparência ou interesses sexuais/relacionais.
Independente de qual seja o seu sintoma, a primeira via de acesso à sua origem é sempre entrar em contato com o que você realmente sente, aqui e agora. E por que? Porque da mesma forma que o corpo percebe seu próprio peso em relação à gravidade e isso é fundamental para ele manter-se em equilíbrio; percebe dores e incômodos e isso o leva a se movimentar para buscar uma outra posição mais confortável; percebe carícias e colabora para criar um estado de excitação, por exemplo, o psiquismo também precisa perceber os padrões emocionais e mentais que lhe afetam para poder conduzir o nosso comportamento individual, nesta ou naquela direção, para termos saúde.
Por sermos um organismo vivo, somos moldados pelos nossos cinco sentidos mas também pelo movimentos expressivos de outros organismos, sejam humanos ou não. Por isso não seria possível superar em definitivo os nossos sintomas sem entrar em contato com os sentimentos e sensações que os formataram, em primeiro lugar. As impressões que temos a respeito de um local, uma pessoa ou situação moldam e são moldadas pelo comportamento - o nosso e o dos outros - e podem ser percebidas no corpo todo, através daquilo que Reich chamou de "sensação de órgão".
Quando o paciente está ansioso, é comum ele não saber dizer o que está sentindo pois a ansiedade é uma forma inconsciente de evitar entrar em contato com alguma emoção que não se consegue tolerar ao mesmo tempo que serve como uma forma de não sentir coisa alguma, já que coloca o organismo em um estado de aceleração. Para não sentir, a pessoa inconscientemente mantém sua respiração para um nível superficial e não consegue expirar completamente. A ansiedade caminha junto com a imaginação de algo que é desagradável e que a pessoa quer evitar ou de algo agradável, mas que a pessoa apesar de desejar, não consegue obter.
Enquanto estamos saudáveis psiquicamente, somos capazes de reconhecer facilmente quando estamos desconfortáveis com uma situação e o que precisamos fazer para nos autorregular novamente - o corpo está sempre buscando a saúde e o equilíbrio. Mas quando acumulamos uma série de situações emocionais "mal resolvidas", essa tensão gerada se cronifica em nossos corpos na forma de bloqueios musculares, chamados pelos terapeutas reichianos de couraças. Esses bloqueios criam uma barreira na conexão com os outros e com as próprias sensações, impedindo que se sinta o próprio corpo - é como se ficássemos anestesiados emocionalmente - e também o que está acontecendo à volta.
Nesse momento, a atenção se volta para os chamados padrões neuróticos: padrões de comportamento repetitivos, que remetem a uma situação traumática no passado. Esses padrões se estabelecem quando, em uma determinada situação de tensão ou repressão, o nosso organismo luta para encontrar a melhor resposta possível naquele momento (visando a sobrevivência) mas não é capaz de "desfazer" essa resposta em seguida. Assim, uma certa postura corporal e um padrão de percepção, pensamento e sentimento muito específicos se cronifica e continuará sendo utilizado sempre que acontecer uma situação funcionalmente semelhante, até que as couraças sejam flexibilizadas em terapia.
A clínica é um ambiente seguro, sustentada pelo vínculo afetivo criado entre o paciente e o terapeuta onde, aos poucos, cria-se condições para entrar em contato com as emoções represadas nas couraças musculares do caráter - que são a base fisiológica do comportamento neurótico. Entendo que uma boa parte de nós gostaria que os sintomas, incômodos e conflitos fossem resolvidos de forma rápida ou pelo uso da vontade para, simplesmente, voltar a fazer as coisas do modo como estávamos acostumamos a fazer. Dificilmente pensamos em modificar nossos jeitos de conviver e sobreviver (porque isso assusta, já que ameaça o nosso senso de identidade) mas é precisamente em nossas condutas típicas e automatizadas, que se manifesta a couraça e boa parte dos nossos sofrimentos.
A Psicoterapia Reichiana considera o ser humano em sua integridade biopsicossocial e leva o paciente a perceber o próprio caráter (sem moralismos), para assim, poder flexibilizar o seu "jeito de ser", o seu modo de viver a vida. O ser humano anseia por satisfação, alegria de viver, orgasmo, carinho, pertencimento, amor. Nenhum destes conceitos necessita de uma explicação filosófica, espiritual ou moralista. O que precisamos é poder viver todas essas sensações e sentimentos, sem medo e sem punição. Precisamos disso para sermos pessoas saudáveis, capazes de perceber aquilo que lhes afeta e ter a mente limpa o suficiente, para poder compreender exatamente o que está acontecendo (e não misturar realidade com fantasia) e tomar as decisões necessárias para sair daquela situação.
Espero ter ajudado, um abraço!